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A vez da diplomacia corporativa 

A confirmação da nova política tarifária do governo do presidente norte-americano Donald Trump contra o Brasil, prevista para o próximo dia 1º de agosto, lançou questionamentos sobre os limites da capacidade de negociação do governo brasileiro, por meio de sua diplomacia tradicional e também de outros atores, como parlamentares e políticos da oposição. Dificilmente os diplomatas brasileiros, chefiados pelo chanceler Mauro Vieira, que está nos Estados Unidos nesta semana, conseguirão evitar a aplicação das tarifas de 50% até a próxima sexta-feira, tampouco postergá-las, a exemplo do que ocorreu com outros países, como Canadá e China, em abril deste ano. 

Por mais que os esforços da diplomacia pública brasileira se concentrem na redução de danos que deverão afetar sobretudo setores estratégicos da economia brasileira, como o agronegócio e as indústrias do ferro e da aviação, e apesar do déficit comercial que temos com os Estados Unidos, a política tarifária da administração Trump tem objetivos políticos como pano de fundo. Ou seja, a costura deverá ser não apenas comercial, mas também política, algo improvável neste momento, haja vista o distanciamento político-ideológico entre o presidente norte-americano e seu homólogo brasileiro. 

Por outro lado, em que pese serem praticamente remotas as esperanças de um acordo tarifário entre os dois países, afetando as expectativas do mercado, que já precifica a denominada “Tarifa Trump”, ao menos no Brasil, o custo político e o impacto na produção agroindustrial pavimentam o caminho para uma alternativa: a via da diplomacia corporativa, ou seja, a negociação intermediada justamente pelos atores mais diretamente envolvidos – os setores produtivos e suas entidades representativas. 

Sendo um campo mais recente das Relações Internacionais, com forte tradição inspirada na Administração e na Economia, a diplomacia corporativa, já profissionalizada no Brasil, poderá ser um ponto de inflexão nesta conjuntura, que até então apresentava um horizonte pessimista capaz de comprometer ainda mais as exportações brasileiras, com impactos domésticos diretos, sobretudo sobre emprego e renda. Os movimentos recentes de associações empresariais e setoriais e de entidades representativas do agronegócio e da indústria brasileiras, ao enviar emissários – verdadeiros diplomatas corporativos – para encontrar suas contrapartes norte-americanas nos últimos dias, com o objetivo de pressionar por um entendimento entre os dois países e abrir um diálogo político e comercial, poderão surtir efeito junto às entidades representativas dos EUA e, por consequência, no Capitólio e entre os próprios consumidores norte-americanos. 

Faltando pouco mais de um ano para as eleições de midterms nos EUA, que poderão garantir o controle absoluto dos republicanos nas duas casas legislativas – ou a perda de uma delas, paralisando o governo Trump –, qualquer tipo de lobby ou pressão pode ser mais eficaz do que optar exclusivamente pela via da diplomacia tradicional, especialmente em um contexto de animosidade entre os chefes do Executivo dos dois países. 

Além de prospectar novos mercados e alternativas – cujos efeitos serão sentidos apenas no longo prazo, com os acordos de livre-comércio com a União Europeia e a EFTA, e a aproximação com a China e outros mercados asiáticos –, a diplomacia brasileira pode e deve contar com o apoio da diplomacia corporativa, acima de paixões ideológicas, para encontrar uma solução negociada às tarifas impostas pela administração Trump e pacificar as relações entre os dois países, construídas há dois séculos – e não há dois meses – com base no respeito mútuo, no diálogo e nas parcerias estratégicas dos diferentes setores, especialmente o produtivo. 

Texto por Roberto Rodolfo Georg Uebel, economista e Professor de Relações Internacionais da ESPM. Roberto falou ao Podcast Rio Bravo no primeiro semestre deste ano acerca da escalada tarifária da gestão Donald Trump. A íntegra do episódio está disponível a partir do link a seguir. 

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