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A crise da engenharia e o esvaziamento da razão

*Pedro de Medeiros

A recente pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), revelando que apenas 12% dos jovens brasileiros sonham em ser engenheiros, é mais do que um dado preocupante; trata-se de um sintoma de um mal-estar intelectual e cultural. A engenharia, que já representou o encontro entre a razão e a criatividade, parece hoje ter perdido o prestígio entre as novas gerações. E o que está em jogo não é apenas uma profissão, mas uma forma de pensar o mundo.

Ao longo da história, a engenharia foi símbolo de progresso e inteligência aplicada. Cada ponte, usina ou edifício era uma expressão concreta da capacidade humana de transformar ideias em realidade. No entanto, à medida que a sociedade se volta para a rapidez das redes e o fascínio das telas, o valor do pensamento lógico e estruturado parece ter se diluído. A engenharia exige paciência, rigor e visão sistêmica, virtudes que não se ajustam ao ritmo acelerado e fragmentado da cultura digital.

O desinteresse dos jovens pela engenharia não se explica apenas por fatores econômicos. Esse fenômeno revela uma mudança de paradigma. Vivemos um tempo em que o brilho da técnica parece ter sido substituído pela ilusão da facilidade. A tecnologia, antes filha da engenharia, passou a ser vista como um fim em si mesma. Muitos jovens sonham em “criar aplicativos” ou “inovar”, mas raramente compreendem que toda inovação sólida nasce de fundamentos lógicos, matemáticos e filosóficos.

A engenharia, em sua essência, é uma filosofia aplicada. Traduz a abstração em estrutura, o conceito em concreto. É um ato de criação racional, uma ponte entre o pensamento e o real. Quando nos afastamos dela, nós nos distanciamos de uma forma de raciocínio que moldou a civilização moderna. Aristóteles e Descartes, cada um à sua maneira, foram engenheiros da mente: buscaram ordem, método e clareza em meio ao caos das ideias.

Se a engenharia perde seu encanto, o que o Brasil perde é mais do que mão de obra qualificada. Perde-se uma geração capaz de unir lógica e imaginação, cálculo e sensibilidade, técnica e ética. Sem engenheiros, não há infraestrutura, energia ou tecnologia industrial. Pior: sem pensamento racional, não há sequer progresso humano.

Talvez este seja o momento de reconectar a engenharia à filosofia, lembrando que o raciocínio crítico e o pensamento estruturado não são apenas ferramentas técnicas, mas fundamentos da liberdade intelectual. A crise da engenharia é, em última instância, uma crise de pensamento.

Reencantar os jovens com a beleza da lógica e o poder criador da razão é uma urgência. Porque, no fim, o verdadeiro profissional de engenharia, seja de pontes, de códigos ou de ideias, é aquele que entende que toda construção começa na mente. E que sem razão, nada se sustenta.

*Pedro de Medeiros é filósofo formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, engenheiro mecânico pela PUC e pós-graduado em Gestão de Pessoas, consultor de multinacionais, palestrante e escritor. 

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