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Donald Trump, a liberdade de imprensa e a revolta do público 

A pouco mais de 12 meses do aniversário de 250 anos da Revolução Americana, os Estados Unidos enfrentam um dos maiores desafios à sua democracia. Se a eleição de Donald Trump em 2016 surpreendeu a muitos, em 2024 as consequências são de choque e pavor, refletindo preocupações com tarifas, acordos climáticos e a cooperação internacional – e isso ainda nos primeiros cem dias de governo. Nesse contexto, a necessidade de uma imprensa livre, que funcione como um contraponto aos abusos de poder, nunca foi tão urgente, pois a falta de resistência midiática à figura de Trump pode significar a ascensão de um regime autoritário. As notícias para a imprensa, no entanto, não são nada boas. 

De acordo com o levantamento mais recente do Instituto Gallup, a confiança dos norte-americanos na mídia está em níveis muito baixos: apenas 31% acreditam que a imprensa reporta os fatos de forma completa, precisa e justa. Comparando com a década de 1970, quando o índice de confiança era acima de 70%, é evidente que a crise de credibilidade da mídia tem escalado ao longo dos anos. Essa desconfiança pode ser explorada por Trump, que frequentemente deslegitima a mídia e a utiliza como um bode expiatório para seus atos. 

A correlação entre a queda da confiança na mídia e a ascensão de lideranças como Donald Trump é inegável. Desde que anunciou sua entrada para a política, com a sua primeira candidatura à presidência há dez anos, sua popularidade permanece em patamares elevados, algo evidenciado pela aprovação de 39% dos norte-americanos à sua administração, segundo sondagem do Instituto Ipsos. Isso sugere que a mensagem disseminada pelo jornalismo profissional, marcadamente crítica a Trump e ao trumpismo, não atingiu seu público de maneira eficaz. Em vez disso, o presidente dos EUA se mantém como ator político incontornável na era das guerras culturais e das mídias sociais. 

Para além disso, o que os números não mostram é o que motiva a percepção negativa da população em relação à mídia. Muitos veem o jornalismo profissional como um porta-voz de uma agenda elitista, em vez de um defensor das liberdades individuais e do bem comum. Essa desconexão leva à “revolta do público”, um fenômeno que não apenas impacta os meios de comunicação, mas também os governos, criando um ambiente de desconfiança propício para a manipulação política. 

O analista Martin Gurri, autor do livro “The Revolt of The Public and the Crisis of Authority in the New Millenium”, ressalta que, se na administração Kennedy a confiança no governo era de cerca de 80%, durante o governo Obama, caiu para apenas 19%, apesar da popularidade do presidente democrata entre 2009 e 2016. Isso revela um descontentamento profundo e de longo prazo para com as instituições, fator que pode ser aproveitado por líderes populistas como Trump, que se alimentam da desconfiança para consolidar seu poder. 

Se, após os eventos de 6 de janeiro de 2021, quando da invasão do Capitólio, o futuro político de Trump parecia, na melhor das hipóteses, incerto, seu retorno à Casa Branca sinaliza uma falta de compreensão da mídia sobre as razões para a revolta do público – e, no limite, da origem da indignação da sociedade na época das mídias sociais. Nesse contexto, as recentes declarações de Trump, como a de que ele “governa os EUA e o mundo”, indicam um fortalecimento de sua posição e uma ameaça à democracia se a imprensa não souber enfrentá-lo. Nesse cenário, a liberdade de expressão se reafirma como princípio elementar, e a Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que protege esse direito, é mais relevante do que nunca. 

Os desafios enfrentados pela maior democracia do mundo não deixaram de ser anotados por Alexis de Tocqueville, que, no clássico “A Democracia na América”, afirmou que a soberania do povo e a liberdade de imprensa são interligadas. A atual situação nos EUA reforça a necessidade de uma mídia que reestabeleça sua conexão com o público e atue de forma independente e crítica, pois a ausência de tal resistência pode resultar em um regime que ameaçará as bases da democracia. 

* Fabio Silvestre Cardoso é jornalista e editor de conteúdo da Rio Bravo Investimentos. 

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