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Podcast 878 | André Bergamaschi | O que as empresas brasileiras devem fazer após o tarifaço dos EUA

No episódio desta semana, nosso convidado é o advogado e pesquisador André Bergamaschi, sócio da Bergamaschi e Bozzo Sociedade de Advogados. A atuação de Bergamaschi se concentra em torno da utilização do processo civil como instrumento para efetiva resolução de conflitos de outras áreas, congregando conhecimentos interdisciplinares, o que também se reflete em sua pesquisa acadêmica.

Na entrevista que concede ao nosso Podcast, além de resgatar sua trajetória profissional, o advogado fala a respeito do impacto do tarifaço, discutindo, assim, qual deve ser o plano de ação das empresas a partir das medidas anunciadas pelo governo norte-americano. Será que empresas que estão prestes a buscar reestruturação de suas dívidas devem tomar crédito? André Bergamaschi responde essa e outras questões no Podcast que começa logo a seguir.

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Bom momento segue, mas com o ritmo em queda 

O mercado de crédito privado continuou com uma boa performance no mês de setembro, mas com eventos de crédito de Braskem e Ambipar – nenhum fundo da Rio Bravo possui exposição a essas empresas. Olhando a performance dos ativos, em especial as debêntures atreladas ao CDI, medidas pelo índice de ANBIMA IDA-DI, analisamos uma variação de 1,19% a.m. vs. variação de 1,22% a.m. do CDI em setembro. No acumulado do ano, o IDA-DI registra retorno de 12,21% a.a. vs. 10,35% a.a. do CDI. As captações líquidas seguem positivas, mas o volume de emissões segue altos, mas desacelerando. Esses fatores podem ser destrinchados da seguinte forma: 

Comportamento dos spreads: ao observarmos os spreads das debêntures corporativas indexadas ao CDI segmentando pela qualidade de crédito, notamos um comportamento homogêneo nos spreads de papéis com duration mais curta estáveis, enquanto os de durations maiores com fechando.  

Manutenção de captação líquida positiva: o fluxo de recursos em mais de 40 fundos de crédito privado com resgate até D+45 foi positivo. 

Emissões no mercado primário: as emissões primárias no mercado de renda fixa estão desacelerando, hoje elas seguem em um patamar praticamente igual ao mesmo período em 2024. 

Rio Bravo Crédito Privado  

O rendimento do fundo Rio Bravo Crédito Privado foi de 1,31%, o que representa 107,35% do CDI no mês de setembro. Olhando a performance das debêntures, os setores de destaque foram de Saneamento, Energia Elétrica e Locação de Automóveis (SUJEITOS A MUDANÇA), já os que tiveram uma performance relativa pior foram os de Química e Petroquímica, Concessões Rodoviárias e Financeiro. No book de debêntures, os papéis de destaque foram da CSN (CSNAA1), Log Commerical (LOGGB) e EcoRodovias (ERDVA6), os que perfomaram abaixo foram as debêntures da e Vibra Energia (VBBR18), Auren (TIET19) e Taesa (TAEEC1). 

Ao analisar a classe de FIDC e LF, no book de FIDC, o FIDC Inlira Consórcio e o FIDC Multiplike se destacaram. Já no book de LF, os papéis do Santander e do Itaú chamaram a atenção. 

Em relação ao nosso portfólio, montamos posições em Sabesp, aumentamos em Aegea e a nossa posição em B3 foi amortizada. Seguimos com uma carteira pulverizada e com baixa concentração, sendo o maior emissor com menos de 2,4%% da carteira, com uma duration de 2,4 anos e um carrego esperado de CDI +0,9% a.a. A carteira hoje está totalizando 32 emissores em 15 diferentes setores, e uma exposição total a 19 setores, quando consideramos os papéis de FIDC e Letra Financeira que carregamos na carteira. Para os meses seguintes, vamos continuar buscando reduzir a exposição a debentures que consideramos estar com um spread baixo e com durations longas, com o objetivo de reduzir o risco de uma marcação negativa. 

RBHG11 

Desempenho do mês  

A distribuição de rendimentos do Fundo referente ao mês de agosto/25 foi de R$ 0,80/cota, um dividend yield anualizado de 14,46% na cota a mercado, ou 11,05% sobre a cota patrimonial do fechamento do mês. Quando comparamos a rentabilidade do fundo em relação ao CDI nos últimos 12 meses (considerando o CDI líquido e a cota do fundo de mercado), o fundo entregou um retorno de CDI+3,6%. 

Valor patrimonial 

Com relação ao valor patrimonial do Fundo, tivemos uma valorização de 0,56% no comparativo do mês de julho contra o mês de agosto. Essa variação decorre de uma reprecificação relevante dos ativos realizada pelo administrador, com base nas metodologias que detalhamos a seguir. É importante destacar que existem diferentes métodos de precificação dos ativos em carteira, sempre com o objetivo de manter os valores dos CRIs alinhados aos parâmetros de mercado. Os dois principais são: negociações no mercado secundário e análise de spread em relação às taxas de juros soberanas. 

Acompanhamento da carteira 

O portfólio do Fundo segue com desempenho satisfatório no que tange à capacidade de crédito dos devedores (CRIs com lastro corporativos) e em relação aos níveis de venda, recuperação e inadimplência das carteiras pulverizadas de recebíveis.  

Além disso, a carteira de CRIs se mostra extremamente diversificada, com 35 papéis, sendo que representam, em média, apenas 2,7% do patrimônio do Fundo. Os investimentos estão espalhados em 10 estados do país, com exposição principalmente a setores de loteamento e incorporação.  

Performance histórica  

RBHG11 

Desempenho do mês  

A distribuição de rendimentos do Fundo referente ao mês de agosto/25 foi de R$ 1,05/cota, um dividend yield anualizado de 16,37% na cota a mercado, ou 13,86% sobre a cota patrimonial do fechamento do mês. Quando comparamos a rentabilidade do fundo em relação ao CDI nos últimos 12 meses (considerando o CDI líquido e a cota do fundo de mercado), o fundo entregou um retorno de CDI+5,2%

Valor patrimonial 

Com relação ao valor patrimonial do Fundo, tivemos desvalorização de -0,07% no comparativo do mês de junho contra o mês de julho. Essa variação decorre de uma reprecificação relevante dos ativos realizada pelo administrador, com base nas metodologias que detalhamos a seguir. É importante destacar que existem diferentes métodos de precificação dos ativos em carteira, sempre com o objetivo de manter os valores dos CRIs alinhados aos parâmetros de mercado. Os dois principais são: negociações no mercado secundário e análise de spread em relação às taxas de juros soberanas. 

Acompanhamento da carteira 

O portfólio do Fundo segue com desempenho satisfatório no que tange à capacidade de crédito dos devedores (CRIs com lastro corporativos) e em relação aos níveis de venda, recuperação e inadimplência das carteiras pulverizadas de recebíveis.  

Além disso, a carteira de CRIs se mostra extremamente diversificada, com 26 papéis, sendo que representam, em média, apenas 3,7% do patrimônio do Fundo. Os investimentos estão espalhados em sete estados do país, com exposição principalmente a setores de loteamento e incorporação. 

Performance histórica  

Artigo de Evandro Buccini, publicado em Carta Estratégias de setembro de 2025. Acesse o documento na íntegra aqui.

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Dos bancos financiadores para o mercado de capitais: FIIs e CRIs no centro do ciclo de mudanças no financiamento residencial

Nos últimos meses, uma pergunta tem voltado à mesa: quem vai financiar o próximo ciclo do mercado imobiliário residencial? De um lado, demanda viva e mais seletiva; de outro, crédito bancário mais restrito. No meio, um investidor pessoa física maior e mais informado. O resultado é um deslocamento visível do funding: dos bancos para o mercado de capitais, com FIIs e CRIs ganhando protagonismo.  

Mesmo com juros altos, a demanda por moradia não diminuiu, apenas ficou mais seletiva. Conforme a pesquisa de intenção de compra da Brain (2º tri/2025), o indicador atingiu 49%, o maior nível da série. O destaque está nos mais jovens e no Sudeste. A pesquisa tem amostra nacional, com cortes por idade, renda e região. 

Em 12 meses, o Índice de Preços de Imóveis Residenciais correu à frente do INCC², abrindo distância entre a valorização dos imóveis e o custo de obra. O INCC ficou mais estável — reflexo de insumos e mão de obra sob controle — enquanto o IGMI-R capturou um residencial mais aquecido, com demanda firme e crédito funcionando. No acumulado do ano, o IGMI-R nacional sobe 10,19% — a maior marca para o período desde 2016 —, reforçando que a alta não é pontual: é consolidação do ciclo. A mensagem é simples no sentido de que a valorização recente não é só repasse de custo, mas, também, com fundamentos de oferta e demanda por trás desse movimento.  

Contudo, do lado da oferta, o crédito bancário para obras apertou em 2025. Conforme a pesquisa ABRAINC/Brain com executivos (jun/2025), 86% das empresas relatam um cenário mais difícil do que em 2024 (sendo 52% “mais difícil” e 34% “muito mais difícil”). Na prática, isso acelera a diversificação de fontes: 54% dos executivos consideram captar no mercado de capitais / com investidores e 53% pretendem reduzir o uso do bancário no ano.  

O levantamento ABRAINC/Brain ouviu cerca de 180 executivos de incorporação, construção e loteamento em todo o país, com questionário estruturado cobrindo: juros, crédito e fontes de funding. Uma metodologia simples e objetiva que refletiu a cabeça de quem decide lançar, financiar e precificar neste mercado. 

Do lado dos investidores, a base vem se alargando. Conforme o Relatório de Educação Financeira da ANBIMA, apenas em 2024 foram mapeadas 229 iniciativas formais, com 29% tendo alcançado mais de 10 mil pessoas.. Em agosto/2025, BC, CVM, ANBIMA e Sebrae anunciaram a expansão do programa “Aprender Valor” para o ensino médio a partir de 2026, com potencial de alcançar 7,8 milhões de alunos. Na prática, com mais gente aprendendo e entendendo do assunto, avaliando risco/retorno, mais natural o entendimento para financiamento de projetos via veículos do mercado de capitais. 

Boletins da ANBIMA (1º sem/2025 e julho/2025) mostram pessoas físicas com papel relevante na captação de recursos, representando 35,7% das subscrições de FIIs no semestre, com a B3 contabilizando cerca de 2,8 milhões de investidores em Fundos Imobiliários. Esse conjunto dá profundidade de demanda e reduz o custo de convencimento em ofertas bem explicadas. Abaixo, a evolução de quem compra no primário de FIIs, com o varejo sustentando as janelas e reforçando a migração do funding para o mercado de capitais. 

Em resumo: o dinheiro mudou de canal. A demanda está viva, o banco ficou seletivo e o investidor vem aprendendo a financiar tijolo pela bolsa. Nesse ambiente, FIIs e CRIs residencial tendem a ganhar espaço porque se casam com o ciclo. 

Na Rio Bravo, nossa exposição já acompanha esse movimento: produtos com foco em residencial e estruturas de recebíveis selecionadas, todas com disciplina de risco e governança no centro. É assim que organizamos capital para projetos que saem do papel e chegam ao cliente final. Com previsibilidade para o investidor e execução para o incorporador. 

Artigo por Anita Scal e Marcelo Zamuner, publicado originalmente em Carta Estratégias Setembro 2025. Acesse aqui.

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Podcast 877 | Gustavo Pessoa | Brasil: potência em minerais críticos ou refém das trocas desiguais?

Faz algumas semanas, o economista Gustavo Pessoa, manager diretor da Taleb Capital Hedge Fund, escreveu um artigo para o jornal Valor Econômico a propósito dos minerais críticos e do posicionamento do Brasil na economia global nesse assunto. Na entrevista que concede ao nosso podcast, Gustavo Pessoa aprofunda alguns aspectos do seu argumento, como a comparação entre as commodities tradicionais e minerais estratégicos.

Em outro momento do podcast, Gustavo Pessoa observa o impasse das trocas desiguais, destacando que cada vez mais se torna necessário exportar uma quantidade maior dos minerais críticos a fim de obter produtos industrializados. O que falta para o Brasil virar essa chave? Você confere a resposta para essa e para outras perguntas no Podcast Rio Bravo desta semana.

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Tudo tem – ao menos um – limite | Artigo de José Alfaix, economista da Rio Bravo

Que o gasto público leva ao aumento da demanda agregada, não há questionamentos. Programas de transferência de renda e investimentos públicos foram cruciais para que pudéssemos superar grandes recessões. Mas nem sempre o impulso fiscal gera crescimento, e muito frequentemente produz efeitos colaterais adversos. As circunstâncias, assim como as quantidades, importam. Não faltam experiências históricas para ilustrar o fato de que o aumento no gasto público é um medicamento expansionista, assim como não faltam os casos de overdose.  Muitos países se deixaram enganar com a ideia de que não há limite para a despesa pública, apenas para se deparar com o mesmo desfecho. A trama é (quase) sempre a mesma. 

A capacidade de endividamento de um país é, por si só, um limite. Gastando mais que arrecadam, os Estados se endividam. Mais endividados, seus indicadores de solvência se deterioram, e com isso ficam maiores os juros que os credores cobram sobre novos empréstimos. Estendendo o problema ao seu extremo, temos que toda, ou quase toda, a arrecadação de impostos acaba destinada a pagar os juros dessa dívida, resultando em um estado paralítico. Sem contar quando, em um ato de desespero, esses países não recorreram à senhoriagem (vale dizer, à inflação) ou ao default na dívida pública. No passado o Brasil já esteve em listas de serial defaulters.  

Contudo, a retórica “gasto é vida” não se deixa abater. Argumenta-se, contra a exposição acima, que o aumento de despesas levará a mais consumo, que, por sua vez, levará à maior arrecadação, impedindo que o estoque da dívida cresça fora de controle. Como se os efeitos de segunda ordem fossem maiores que os de primeira. 

Essa premissa é equivocada, e esbarra em mais um limite do gasto. A verdade é que a política fiscal expansionista se torna progressivamente mais ineficiente a medida em que a economia se aproxima da sua capacidade de produção. Afinal, toda economia tem estoques de mão de obra e insumos limitados. Algo similar é observado no primeiro exemplo, quando o Estado se aproxima do “pleno endividamento”, ou do máximo endividamento que é possível carregar.  

Vejamos o caso atípico do Brasil: hoje com a taxa de juros em 15%, e o desemprego em 5,6%, no menor nível de sua série histórica. Uma vez que estamos no limite da nossa oferta de mão de obra, o efeito do gasto público é mais corrosivo que benigno: a demanda supera a capacidade de produção, e, assim, os salários ficam pressionados, os preços sobem. Não à toa a inflação está há 10 meses consecutivos acima do teto da meta de tolerância. 

Esse descontrole, por sua vez, faz com que a taxa de juro necessária para reequilibrar os preços seja sempre maior, enquanto encarece ainda mais nossa dívida. No acumulado de 12 meses até agosto de 2025, os juros nominais da dívida pública somaram R$946,5 bilhões, equivalente a 8% do PIB. 

Ainda assim, ouvimos membros do governo dizerem repetidamente que “o fiscal não é um problema”. E, mesmo com a economia aquecida, insistem no aumento dos programas de transferências de renda, novas linhas de crédito e malabarismos que dispensam a rigidez da regra fiscal. Sempre com o pé no acelerador, firmes de que o gasto é o único motor do crescimento.  

O problema é que, na prática, forçar o acelerador para além de seu limite deveria quebrá-lo, ao custo de causar um acidente na pista.  

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O vento virou – artigo de Gustavo Franco

O Brasil está em pleno emprego: o IBGE anunciou no dia 30 de setembro que o desemprego chegou a 5,6%, o menor patamar da série histórica, que se iniciou em 2012.  

Mas a política fiscal continua fortemente expansionista, sem haver nenhum sinal de moderação quando se trata de gastos. Todo o esforço do ministro Haddad acontece no território dos impostos e está motivado pelos ideais de justiça distributiva do ministro e do presidente. Eles parecem achar que vão corrigir as desigualdades do Brasil alterando a legislação tributária.  

Eles também alegam que miram no equilíbrio fiscal. Entretanto, através do chamado “arcabouço”, o governo inventou sua própria definição de equilíbrio fiscal, e se declara em conformidade com sua meta. Portanto, não há que se falar em desequilíbrio. E dessa forma um tanto autorreferenciada o governo declara que as contas fiscais estão sob controle e que a vida segue. 

Claro que essa lógica não é muito convincente e que o arcabouço não conta com muita credibilidade. Mas o governo insiste em pisar no acelerador fiscal e testar os limites.  

As advertências dos economistas mais ortodoxos quanto “ao fiscal” não se mostram lá muito convincentes. Os limites foram testados nos últimos anos, e não aconteceu nada. O fracasso da Nova Matriz parece ter sido esquecido. Não se vê nenhum vestígio da recessão que se apresenta como a “prova” de que a Nova Matriz deu errado. O país está em pleno emprego. 

Os livros-texto de economia indicam que estímulos fiscais para economias em pleno emprego tendem a gerar problemas: não seria surpresa que pressões inflacionárias se apresentassem. Mas não foi o que se observou em setembro. Houve certa moderação, quase que se pode se dizer que a inflação cedeu. O presidente Lula de fato tinha estabelecido, em um discurso célebre de março de 2023, que certos gastos não são gastos, mas investimentos e, mais importante, “os livros de economia estão todos superados”1

Bem, há ao menos duas explicações boas para a moderação nos preços, na verdade as mesmas duas de sempre, juros e câmbio. 

Claro que a política monetária fez a sua parte, e ninguém duvida que os juros de 15% estão produzindo efeitos. Inesperada é a ajuda que veio do câmbio. Desde o “liberation day” a conjectura dominante sobre o efeito das tarifas americanas gira em torno da inflação, aqui e lá.  

Mas não foi o que se passou. 

O objetivo dos americanos era desvalorizar o dólar, com o intuito de melhorar a conta corrente do seu balanço de pagamentos. Talvez o melhor caminho fosse o fortalecimento do remimbi. Mas o fato é que as tarifas se apresentaram como uma alternativa que podia ser implementada de forma unilateral pelos americanos, e com resultado talvez semelhante, ainda que com efeitos colaterais ruins.  

Tudo considerado, os mercados fizeram antecipadamente parte do caminho que se imaginava para o dólar: nesse ano, o DXY perdeu cerca de 10%. O dólar não caiu esse tanto contra o remimbi, que não está na cesta do DXY. Mas o valor em dólares do SDR foi de US$ 1,3 para US$ 1,43, cerca de 10% de “desvalorização”. 

Parece pouco para corrigir o déficit em conta corrente dos EUA, por isso, não é irrazoável que venha mais desvalorização do dólar, com a implementação das tarifas e/ou dos acordos sendo negociados em bases bilaterais. Há muita água ainda para correr debaixo dessa ponte, não se consegue conceber o próximo movimento de Donald Trump nesse jogo. Mas a direção parece ser a de enfraquecimento maior do dólar. É o que os americanos querem e, curiosamente, é o que muitos não americanos também querem, e normalmente expressam esse sentimento afirmando que o “privilégio exorbitante” dos EUA está em vias de erosão. 

Enquanto isso, no Brasil, os efeitos desse enredo foram certeiros e positivos. Ao menos por ora. O real se fortaleceu e não resta dúvida de que isso ajudou a domesticar a inflação brasileira. Por ora, portanto, o tarifaço americano – que está, ainda, numa fase “pré-operacional” – produziu o contrário de inflação no Brasil, e por essa ninguém esperava. 

O COPOM se reuniu em 17 de setembro e manteve a Selic em 15%. O Palácio permaneceu como estava, e como tem estado desde que Gabriel Galípolo chegou à presidência da autarquia, isto é, em silêncio. Ótima notícia. O presidente está em paz com o Banco Central, ainda que os juros sejam os maiores em 15 anos. 

Pode-se dizer, portanto, que foi completada com sucesso a transição de liderança no Banco Central em estrita obediência à Lei Complementar 179, e foi integralmente mantida e prestigiada a política de metas para a inflação, seus ritos e sua lógica. Não é pouca coisa tendo em vista as objeções históricas do presidente e do PT à tese da independência do Banco Central. 

Não esquecer também que essa transição bem-sucedida se dá em um ciclo de alta da taxa juros, quando tudo é mais difícil. Os envolvidos merecem todos os aplausos. 

Mas há desafios logo a frente, um deles é o timing de início do ciclo de baixa. Poucos acreditam que vá ocorrer ainda nesse ano. Mas vai ficar muito tenso se o ciclo de baixa não ocorrer nas primeiras reuniões de 2026.  

Há outros desafios ligados a problemas no terreno do sistema financeiro: em setembro, o Banco Central vetou a operação entre o Banco Master e o BRB (Banco Regional de Brasília), mas não introduziu nenhum regime especial. Logo antes, uma operação da Polícia Federal tinha sido conduzida na REAG (“Operação Carbono Oculto”) com vistas a desmantelar um esquema de fraudes e de lavagem de dinheiro no setor de combustíveis e com a participação de fintechs e fundos de investimentos. 

Setembro foi movimentado nos assuntos de regulamentação bancária. Mas só no terreno da conversa. 

De igual modo, setembro foi movimentado na política. O julgamento no STF de Jair Bolsonaro foi transmitido ao vivo pela TV a partir do dia 2 de setembro. A cobertura da imprensa foi longa e engajada, com várias ocorrências bem achadas da palavra “histórico”. A capa do “The Economist” sobre o assunto – com Bolsonaro usando um chapéu vicking em uma referência a um dos invasores do Capitólio nos EUA – era uma boa medida da repercussão internacional do julgamento.  

No dia 12, veio a sentença condenando o ex-presidente e vários generais por tentativa de golpe de estado e mais outros crimes. Jair Bolsonaro pegou 27 anos e três meses de prisão.  

Dia 16 a Câmara dos Deputados aprovou a chamada “PEC da Blindagem”, que seguiu para o Senado. Simultaneamente, a Câmara votou a urgência para um Projeto de Lei estabelecendo a anistia para os participantes dos atos de 8 de janeiro, talvez mesmo para os réus no julgamento no STF sobre a tentativa de golpe de estado. O relator desse projeto, o deputado Paulinho da Força, definiu o projeto como de “dosimetria”, mas a articulação para uma anistia “light” não foi adiante. Depois de forte reação negativa, tanto em redes sociais como em manifestações de rua, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, no dia 24, arquivou a emenda da blindagem, e com isso não havia mais moeda política para pagar a conta da anistia. 

Alheio a esses contratempos, e sem precisar levantar da cadeira, o presidente Lula viu seus níveis de aprovação melhorarem, invertendo uma tendência já persistente de desgaste. A repercussão do tarifaço americano e do julgamento do golpe favoreceu Lula, que deixou para trás essas polêmicas e foi discursar nas Nações Unidas no dia 22. Nada melhor do que viajar e se distanciar da crise. 

Na sede da ONU, viu-se frente a frente com o presidente Trump por alguns segundos, mas foi o suficiente para Trump declarar que teve com Lula “uma química excelente”.  

O vento virou a favor de Lula. 

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Podcast 876 | Fillipi Nascimento | Os limites da mobilidade social no Brasil

No episódio desta semana, nosso convidado é Fillipi Nascimento, doutor em sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco, pesquisador vinculado ao Núcleo de Estudos Raciais do Insper e coautor do livro “A loteria do nascimento: filha do porteiro termina universidade, mas não alcança o filho do rico”.

O livro pretende mostrar por que a maioria dos brasileiros, com competência educacional e esforço equivalentes à dos filhos das elites, continua largando atrás na busca por ascensão social. Na entrevista, Fillipi Nascimento comenta os desafios da mobilidade social no Brasil, critica a tese da meritocracia e defende um conjunto de políticas públicas, para além do investimento em ensino superior para enfrentar a desigualdade social no país. 

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Podcast 875 | Cláudio Moreno | Lições do mundo antigo: por que a mitologia grega ainda é essencial

Foi em 2019 que o professor Claudio Moreno, mestre em Língua Portuguesa e doutor em Letras, descobriu o universo dos podcasts. Desde aquele ano, ele mantém o podcast Noites Gregas, cuja proposta é levar aos ouvintes as histórias da mitologia grega.

Se, à primeira vista, esse assunto parece distante dos dilemas da contemporaneidade, o professor Cláudio Moreno observa que todos nós temos a ganhar com essas histórias antigas, uma vez que nós encontramos nesse repertório todas as facetas da natureza humana.

Na entrevista que concede ao nosso Podcast, Cláudio Moreno não apenas fala a respeito do Noites Gregas, como também comenta o livro “A nudez de Afrodite – lições do mundo antigo”, que acaba de ser lançado pelo selo Difel, do Grupo Editorial Record. 

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Empreender no Brasil: de alternativa a força estratégica da economia 

Empreender no Brasil deixou de ser apenas uma alternativa à carreira tradicional. Hoje, é uma estratégia para conquistar autonomia financeira, gerar impacto social e impulsionar a economia. Segundo a pesquisa Rota do E-commerce, realizada pela Loggi em parceria com a Opinion Box, mais da metade dos empreendedores de e-commerce aponta a independência financeira como principal motivação. Outros fatores, como a realização de sonhos pessoais (27%) e a identificação de oportunidades de mercado (24%), reforçam que empreender combina propósito e visão estratégica — apenas 9% o fazem para complementar renda. 

O perfil dos empreendedores também mudou. Atualmente, 51% são mulheres, demonstrando o protagonismo feminino crescente no setor. Além disso, 61% possuem ensino superior completo ou pós-graduação, revelando um cenário mais qualificado e preparado para enfrentar os desafios de um mercado competitivo. A maturidade também é um diferencial: a maioria tem mais de 40 anos, conciliando estabilidade e experiência acumulada. Muitos, inclusive, mantêm vínculos formais de trabalho — 58% com carteira assinada, 31% como empresários e 27% como prestadores de serviço via pessoa jurídica. 

A longevidade e a consistência das operações chamam atenção. Quase metade dos empreendedores (45%) está no mercado há mais de cinco anos, evidenciando resiliência, gestão estratégica e capacidade de adaptação a cenários voláteis. O faturamento reforça a relevância das pequenas e médias empresas (PMEs): 40% movimentam entre R$ 10 mil e R$ 50 mil por mês, enquanto 9% superam R$ 100 mil. Esses números mostram que as PMEs não são apenas agentes econômicos, mas também peças estratégicas para geração de empregos, inovação e dinamização do mercado nacional. 

O alcance geográfico das operações também reflete potencial de expansão. Cerca de 42% das empresas vendem para clientes em todo o território nacional, 33% atuam localmente, 18% em regiões específicas e 6% já alcançam mercados internacionais. Nesse contexto, a presença digital é essencial. Redes sociais como Instagram (60%), YouTube (50%) e Facebook (36%) lideram como fontes de aprendizado e capacitação, seguidas por podcasts (24%) e televisão (21%). Além disso, 34% dos empreendedores acompanham influenciadores do segmento, reforçando o papel das mídias digitais como instrumento de conhecimento, networking e crescimento. 

A distribuição regional mostra concentração, mas também diversificação. O Sudeste reúne 57% dos empreendedores, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O Nordeste representa 18%, o Centro-Oeste 12%, enquanto Sul e Norte somam 9% cada. Ainda que concentrado, o movimento de expansão para novos mercados indica maturidade estratégica e visão de crescimento sustentável. 

Na semana em que se celebra o Dia do Empreendedor, os dados e histórias do setor deixam claro: empreender no Brasil é muito mais do que abrir um negócio. É gerir riscos, transformar ideias em soluções concretas e gerar valor econômico e social. Cada PME consolidada, cada líder feminino que se destaca e cada operação digitalizada refletem resiliência, inovação e propósito. O empreendedorismo emerge como força estratégica do país, capaz de consolidar mercados, fortalecer comunidades e criar oportunidades para milhões de brasileiros. Mais do que números, esses indicadores apontam tendências que moldam o futuro: diversidade, digitalização, maturidade e sustentabilidade. Entender esse panorama é fundamental para investidores, gestores e formuladores de políticas públicas que desejam fomentar crescimento sólido e duradouro no Brasil. 

Andre Purri é CEO e cofundador da Alymente, uma HRTech especializada em soluções flexíveis e personalizadas para gestão de benefícios corporativos. Purri concedeu uma entrevista ao Podcast Rio Bravo, que pode ser acessada AQUI.

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