
Anos após o impacto da pandemia e o subsequente processo de reabertura global, o comportamento dos consumidores começa a refletir um retorno às prioridades de mais longo prazo: valor, conveniência e variedade. Nesse novo cenário, o comércio eletrônico segue se destacando como força propulsora do crescimento no varejo, transformando cadeias de suprimentos, modelos operacionais e a demanda por imóveis logísticos.
Em 2024, o comércio eletrônico foi responsável por 56% do crescimento das vendas no varejo dos Estados Unidos, com um avanço anual de 8%, significativamente superior aos 1,8% registrados nas lojas físicas. Esse desempenho evidencia que a preferência por compras online não é apenas uma herança da pandemia, mas uma tendência estruturada que se consolida com o tempo.

Além das vendas, o impacto do e-commerce se reflete também na ocupação de imóveis. Desde o período pré-pandemia, o espaço logístico ocupado nos EUA cresceu 12%, enquanto o espaço voltado para o varejo físico (excluindo serviços) registrou leve retração de 2,4%. Importante ressaltar que a dinâmica entre canais mostra uma reorganização estratégica, e não uma substituição: os varejistas estão adaptando seus formatos para melhor atender ao consumidor moderno.
Como já amplamente divulgado nos últimos anos, a demanda por imóveis logísticos ganhou nova intensidade com o crescimento das vendas digitais. Em 2024, as locações por empresas de e-commerce representaram 19% dos contratos globais, superando a média registrada no período anterior à pandemia. Essa tendência não se restringe aos EUA. Dados da Prologis na Europa continental, por exemplo, indicam que a penetração do e-commerce está em apenas 10%, bem abaixo dos 33% do Reino Unido — o que ratifica o potencial de expansão do setor.

Corroborando com a tese, um dos dados mais consistentes na última década é o chamado “multiplicador logístico” — a relação entre o espaço necessário para e-commerce em comparação com o varejo físico. A mesma pesquisa de mercado indica que, desde 2014, as operações digitais exigem cerca de três vezes mais espaço logístico, devido a fatores como diversidade de produtos, estoques maiores, devoluções e serviços adicionais. Mesmo com o avanço da automação e da inteligência artificial, essa relação permanece estável.
Essa realidade reforça uma equação direta: para cada aumento de 1% na participação do e-commerce no varejo americano, estima-se uma absorção de 4,6 a 6,5 milhões de metros quadrados de imóveis industriais. Considerando a projeção de que o e-commerce alcance 30% das vendas até 2030 (ante 24% atualmente), espera-se uma demanda adicional de até 33 milhões de metros quadrados nesse período. E para o Brasil não há indícios de que a tendência seria diferente.
Evolução das Expectativas do Consumidor
A jornada de compra está mais exigente. Hoje, 76% dos consumidores esperam devoluções gratuitas, ante 40% em 2019, de acordo com dados da Federação Nacional de Varejo, nos Estados Unidos. Além disso, 70% esperam entregas no mesmo dia ou no dia seguinte. Para responder a esse novo padrão de expectativas, as empresas estão redesenhando suas estratégias de atendimento, priorizando centros de distribuição urbanos e otimizando sua logística para garantir velocidade e confiabilidade.
Mesmo com esse avanço, o varejo físico segue relevante e em evolução. Formatos mais enxutos, experiências de compra diferenciadas e a integração entre os canais têm permitido aos varejistas físicos a manutenção de sua atratividade. A tendência é de coexistência estratégica: lojas físicas que também funcionam como pontos de experiência e retirada complementam os centros logísticos que abastecem os canais digitais.
Como símbolo do crescimento do comércio eletrônico, empresas como Shein e Temu expandiram rapidamente sua presença, tendo aumentado a receita combinada de US$ 6 bilhões em 2022 para cerca de US$ 44 bilhões em 2024, apenas nos Estados Unidos. Para sustentar esse crescimento, essas plataformas estão ampliando seus centros logísticos no país e adotando modelos híbridos que envolvem também vendedores nacionais.
Temos, então, que o comércio eletrônico não apenas redefine o comportamento de compra, mas também reestrutura as bases físicas que sustentam o varejo moderno. À medida que empresas e consumidores ajustam suas expectativas e estratégias, o setor logístico assume papel central na experiência de consumo. O varejo físico, longe de desaparecer, se adapta a esse novo contexto, tornando-se parte de um ecossistema integrado e cada vez mais orientado à eficiência, conveniência e inovação.